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25 fevereiro 2011

Enrredos

Fazes-me falta agora.

Como uma pérgola de roseiras bravas que me enrreda.
Um número de porta
falta aparentemente silenciosa.

Como o arco
num esboço qualquer de
passagem ao inequívoco.

Fazes-me falta no balanço
que provoca
a inércia da tarde
e no vôo oblíquo -desnorteado-
que se larga no abismo de algum sonho.

No olhar   va  ga  ro  so.

No desalinhar de gestos rebeldes
e nos dedos descuidados. 
De manhãzinha quando as palavras são demais.

Fazes-me falta
como este espaço cego de paisagem quando abro a janela.
Hoje.

13 fevereiro 2011

De onde vens?

I.

Não era grande nem pequeno
nem sequer continha dimensão
o teu gemido
Tão pouco glorioso.

Não ousava desvendar-te o meu segredo
ou por menos
desvendar o meu ardor.

Esperava o momento
em que soltasses com raiva
ou agonia
algum pequeno estilhaço
comparado
ao infinito.

II.

Talvez meu falar transforme
com alguma palavra descuidada
- que por isso ganha força desmedida-
o simples sentimento
o excessivo zelo
em querela rotineira
ou briga garantida.

Assim feito de desassossego
o mel das flores amarga
a alma silencia
e se tornam percursos sinuosos
caminhos antes feitos de euforia.

Repara no entanto quão vãs são as palavras
comparadas à grandeza das estrêlas.


III.

Fala-me antes amor
das searas e montanhas
sacudidas pelos ventos
abraçadas pelas brumas
pacientemente aguardando as mudanças.

E se assim em lentos passos se avança
para quê tornar atrás por novos rumos?


IV.

Pudera eu dizer-te meu amigo
se asas dera eu ao pensamento
quanta riqueza houvera
e negaria
para em teus braços afagar os meus lamentos
e de ti não apartar meu coração.

Na mais simples das mansardas viveria
sem tormentos ou angústias que sofrer
ouvindo p'las manhãs a cotovia
e os gritos do pavão ao entardecer.

Porém meu ser
pequeno grão de areia vai rolando

tranquilamente embalado pelos ventos
em universos difusos
e sentimentos tantos!

E assim se vão as noites pelos dias.