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25 outubro 2010

5ª essência

Procuro a beleza imperfeita. Gosto da beleza imperfeita porque é bela.
Toca-me como uma mão fina,
que toca de olhos fechados,
vagueando as superfícies e que não quer. Não deseja!
Apenas toca e atentamente vai encontrando o que não procurava.
Gosto da beleza imperfeita e das pessoas que a cuidam amorosamente. A descuidam...
Como uma parede em ruína que alberga numa pedra, mil anos de pessoas que a habitaram.
Enternece-me os sentidos. Inspira-me a minha construção interior, reconstruindo. Transporta-me para uma regeneração.
Desperta-me.

60 minutos

Como é bom
                                       -- angustiantemente bom!--
saber que me amas em silencio
que me queres permanente
nos 60 minutos que a hora contem e que posso ser o alento dos teus piores momentos em segredo.

É pena o amor não ser quieto. Quieto, assim como os céus de madrugada....

06 outubro 2010

Era uma vez.....

Era uma vez.......
um homem velho por fora
e não velho por dentro. Quer dizer: tinha roupas usadas, já moles!
O homem velho, que não era avô, passeava
na beira do mar
numa praia
                                 numa Ilha
de areia escura, por causa dos vulcões
que estavam extintos.
Passeava todos os dias
como se fosse hoje o primeiro dia
que passeava na beira do mar                     da Ilha.

Na areia da praia
escura por causa dos vulcões extintos
encontrava sempre conchas, pedrinhas e pedras. Umas até tinham nome. Lembrava-se de um, que agora mesmo não se lembra.
Ah! era a pedra siléx. A pedra do fogo dos vulcões...

Estas coisas que encontrava, eram para ele jóias valiosas. Brilhavam
molhadas da água do mar, e por causa do sol.
Todos os dias,
mas todos os dias mesmo
le-vaa-vaaaa           pa-a-ra         ca-aa-sa
pedrinhas       pedras          e conchas
que apanhava na praia dos vulcões extintos há muitos anos.
Um dia decidiu: Já não levo mais nada para casa! A minha casa é pequenina e depois não cabe o cão!

Então o homem velho, que não era avô
inventou um jogo
de mudar de lugar as pedras.

Mudava tudo de lugar. Enfeitava a areia, a fingir que era por acaso......
Quando terminava de enfeitar a praia, ficava a olhar de cima
para ver se estava tudo
bem enfeitado.

Depois ia-se embora, contente do jogo do enfeite
Sabia que os meninos que chegavam depois
iam encontrar as pedras
pedrinhas e conchas
do jogo.....
E era verdade!!!

Casas brancas

A minha terra não tem Rio
nem
alguma vez
                                  casas brancas!
Talvez interiormente
a aldeia que me habita
se pareça ao que me disséste
nas margens do Tejo
esta manhã                         tão cedo......

Não digas que me amaste em segredo

Sou uma contemplativa. Os sentidos são a velatura da minha realidade!
Vou voltar a dar importância às coisas consideradas insignificantes, infantis.Os rabiscos das paredes. Imaginar que os papeis caídos no chão, são recados entre amigos. Ou maravilhosas declarações de amor imaturo, que nunca lidos por distracção.

Tenho andado à procura de um grilo que continua a cantar, apesar da chuva de outono. Passo devagar e paro. Ele cala-se. Não quer que o encontre....acho que foi assim que aconteceu, há uns anos atrás. Não me disseste. Para eu não saber.
Dói-me....

Vou voltar a dar importância às coisas indecifraveis, às coisas pequeninas, que não se podem ver à primeira, e às vezes, também não se vêem à segunda....a cor do céu, hoje, por exemplo. Às algas que o mar trouxe até ao meu caminho matinal de beira mar.
Tinha saudades dos detalhes. Ver, como quem anda em passos pequenos!
Como se tivesse em memoria, um registo em "mensagens guardadas".
Vou assumir, outra vez, prometo, a irresponsabilidade ao olhar.....recuperar as cores primárias, os cheiros subtis e os sinais ilegiveís. E deixar-me pensar: Não me ralo!!!!!!

Continuo à procura do esconderijo do grilo, que canta no outono, sem se importar se é no outono o seu tempo de cantar.
Ando a assumir este sabor das luzes, ao amanhecer. Dos cheiros das santolinas e das lavandas, à hora em que somos ainda vultos, mal definidos....como os recém chegados. Os recém nascidos. Os recém amados...

Mas por favor:
Não me digas, dessa forma tão educada, que me amaste em segredo!!!