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27 junho 2010

In Sides

....o dia da saída era na próxima segunda feira. Reservaram-me um hotel, perto de Flagey,  Esquerda  Emigrante da cidade de Bruxelas. As malas prontas no corredor  há 4 dias, esperavam a tal segunda feira, adiada por mim desde que tinha chegado...em maio. E "a má dam" disse-me: 
- Trate-me por Drª e ao meu marido também, se não se importa. ( Não percebi se era nome ou apelido. )
E respondi:
- Ah, como estive estes 3 anos em Espanha onde toda a gente se trata por tu, é dificil habituar-me.

Os senhores e senhoras, Doutores Engenheiros Arquitectos e familiares são tratados como tratam os outros. E os outros......bom, todos nos tratamos pelo que somos, TU.  Não interessa se vais ao médico, se a polícia te manda parar ou se vais ao bar tomar un cafe com leite. Somos todos TU.

Mas assim passaram oito meses, a tratar a "mádam" por Drª porque o marido não estava presente a maior parte do tempo.

Nunca tinha sentido tanta pressa em sair de uma cidade.
Nessa sexta feira, dia 18,começa a nevar, durante a noite e durante o dia,  e não consigo transporte para o Brussels Hotel. Nem eu nem a bagagem.
A rua Echevin van Muylders tornou-se nessa manhã a minha única opção de saída. Já sei!!! Faço a viagem de metro, por 2 vezes. Vou e volto. E depois outra vez o mesmo. Vou.....

Os passeios e a estrada gelados, a mala pesada que rodava mal em cima da neve e os poucos carros que circulavam deslizavam nas descidas e nas curvas.
Hesitei várias vezes mas não tinha muitas opções. Queria ir-me embora. Sair dali.....

O marido da Drª, que até esse dia tinha sido a única pessoa que me parecia não ter conceitos de classes sociais e ainda por cima era inteligente - quero dizer que falava como uma pessoa normal!! - deu-me um envelope com o dinheiro do mes e disse-me que tinha o Hotel pago.

A rua deserta, a neve que não parava de cair há horas e o silencio que se põe no ar quando neva... assim que comecei o trajecto no exterior, com a mala que me pareceu  mais pesada que antes, apareceu um taxi.

Não pedi que parasse nem pensei sequer que pudesse estar disponivel. Tinha tentado antes ligar para todas as centrais de taxi possiveis.
 "Impossible madame. On as pas de voiture. L´aeroport est fermé."

Olhei e desviei o olhar imediatamente, tentando levar a bagagem até à porta do metro que estaria como que a 600 metros. "Vous cherchez un taxi, madame? "

O "chauffeur, un turco já com alguma idade explicou-me que ia almoçar mas que como estava tão mau tempo me levaria até ao meu destino. Inch Allah.......
Nem queria acreditar. Assim lá fui eu para o dito Hotel, Av. Louise.......

Uma coisa era certa: amanhã de manhã teria o pequeno almoço no Pain Quotidien, o meu lugar preferido do sábado de manhã......
calçaria as minhas botas preferidas, mais aquele gorro fixe que comprei em Amesterdam.....e haveria de percorrer para sempre as avenidas todas da cidade com a sensação de estar viva e livre de pesadelos......